Saturday, August 31, 2013

Das mamães de hoje em dia

Pois, um pouco mais de um ano depois venho me pronunciar, brevemente, "acerca da maternidade".

Não será o caso de escrever uma carta pseudo-poética à minha filha - até escrevo, mas em particular, e procuro mesmo nessa comunicação tão intimista não cair para os clichés das borboletas e das lições de vida -, mas de refletir um pouco sobre o que é ser mãe, sem sentimentalismos. Socialmente falando.

Ser mãe é, para aquelas que gostam de sê-lo, uma circunstância extremamente exaustiva e gratificante, um tanto neurótica e que transborda de sentimentos nunca (d)antes vividos, todas sabemos.

Mas o que não sabia era como iria me tornar uma pessoa tão desinteressante (sim, sou tacanha a ponto de classificar as pessoas em interessantes ou não, mas isso não tem nada a ver com credenciais acadêmicas ou intelectuais) aos olhos das pessoas que ainda não conhecia - e um pouquinho nos de algumas que já conhecia.

Eu tenho uma filha, e não consigo excluí-la totalmente do meu discurso, principalmente se está presente. Principalmente se falo com amigos(as) com rebentos mais ou menos da mesma idade, ou familiares e amigos(as) que querem saber mais sobre o seu desenvolvimento. Principalmente se tenho dúvidas. É natural, ela domina o meu cotidiano, os meus esforços no momento. Todo o resto, a minha disponibilidade giram ao redor dela. Eu gosto de ser mãe, não é um incômodo.

Mas eu encaro a maternidade de forma bastante natural, o que me surpreendeu. Antes da chegada da V., eu tinha muito medo de tudo relacionado a gravidez e bebês (mais uns outros medos que persistem e persistirão, mas não vêm ao caso) - desde o parto até trocar fraldas, segurá-la, dar banho, etc.

O parto foi chatinho, mas não me traumatizou, não é uma lembrança ruim, de jeito algum. E eu entrei no "modo mãe" assim que ela foi colocada em meus braços. Em que fomos para o quarto(divisória) da maternidade e troquei a primeira fralda no piloto automático, sem ajuda ou a presença de ninguém. Ela nasceu mirradinha, mas nunca tive nenhuma aflição de segurá-la, dar banho, nunca senti nojo do conteúdo das fraldas. E, sorte minha, não tive baby blues de nenhum tipo, não senti os hormônios à flor da pele nem durante nem após a gravidez. Não senti essa fase de minha vida como um "peso". Não tive medo de ficar a sós com ela quando o pai voltou ao trabalho. Nada, nada disso.

Portanto, quando as profissionais de saúde que nos assistem aqui no Reino Unido tentavam me sondar - sempre! - para verificar se eu estava sofrendo de depressão pós-parto, se estava conseguindo lidar com todo o cansaço e pressão, eu me sentia um tanto atônita e sem palavras. Era como eu tivesse a obrigação de dizer que estava sendo tudo muito difícil e complicado, que eu estava sofrendo, que precisava de ajuda. Compreendo que seja importante esse tipo de avaliação, mas me sentia um pouco contra a parede - talvez não seja o propósito de tais perguntas, mas sim a abordagem que seja um pouco agressiva. E, sim, era - é - tudo muito cansativo, solitário, mas eu estava - estou - feliz. E quase me sentia culpada por isso. Não vou nem mencionar as questões de amamentação, etc, pois esse sim é um assunto cansativo e polêmico. Essa foi a primeira pressão social que senti, inesperada. Não conto a histeria de certas mulheres (não próximas a mim) durante a minha gravidez, que também me incomodou um pouco, pois isso rendia outro post e sinto como algo bem distante já.

A segunda pressão que senti - e sinto até hoje - é a de ser mãe socialmente. Nos clubes de mães e bebês. Nas saídas com outras mães desconhecidas.

No primeiro caso, percebi que é quase ofensivo falar de assuntos que não sejam crianças, casa e bebês. É claro que o propósito dessas reuniões é trocar ideias, impressões, esclarecer dúvidas, deixar os pequenotes interagirem com outros bebês. E eu gosto de conversar, saber sobre bebês. Mas, para mim, é também sair de casa. Arejar um pouco. Falar com adultas. E não, não sobre a minha casa caótica, não sobre o meus sogros, não sobre as peripécias da minha filha o tempo inteiro. E não, não sobre esmaltes e vernizes e celebridades, que são assuntos que pouco me interessam. Na verdade, acho que nem sei sobre o que conversar, porque o espaço para outros assuntos é tão exíguo que ficou difícil avaliar o que é ou não pertinente.

Tudo isso veio à tona após uma saída com (des)conhecidos no domingo. Fomos a um pub local, comida excelente, ambiente bom para crianças, com parquinho nos fundos e tudo mais. É verdade que a situação era um pouco estranha - o casal com a filha de 2 anos e meio está separado. Mas, do momento em que cheguei à mesa até irmos embora, fui bombardeada com perguntas, comentários e longos monólogos sobre gravidez e maternidade. E foram três horas de almoço. Como disse, é claro que vou falar sobre a minha filha, trocar algumas ideias, mas esperava uma interatividade um pouco mais abrangente.

E daí eu penso se isso não será cultural - e por cultural aqui eu quero dizer em níveis regionais, pois acho a vida em qualquer lugar fora de Londres, nesta ilha, sempre muito estranha; isso, claro da minha perspectiva limitada -, ou se não é mesmo que, como com tantas outras coisas mais, estamos fazendo um estardalhaço de algo que é natural, não classificável, e variável de pessoa para a pessoa. Sim, é algo a ser compartilhado, mas não é um estigma. Não é um rótulo, não nos define, essencialmente.

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