Monday, June 30, 2014

Receitas que achei interessantes #1

Resolvi criar a rúbrica acima pois é uma forma de arquivar receitas que achei, obviamente, interessantes :).

Em geral, elas vêm de blogues que acompanho, mas é mais fácil procurar aqui, principalmente quando não me lembro de onde as vi. E é também uma forma de compartilhar.

Tem essa receita de biscoitos de alfarroba - ingrediente que nunca provei ou vi, e que me deixa super curiosa - que ela publicou no blogue.

Todo mundo que tira ou diminui a quantidade de glúten da dieta sabe como é difícil fazer pães fofinhos em casa. Eles até saem macios do forno/da panificadora, mas ao esfriarem, a textura logo endurece. Ela nos presenteou com este aqui, e ela, com este. Duas receitas que estou com muita vontade de provar.

Descobri este blogue, muito bonito e interessante, via Instagram. Eu gosto de brócolis, mas não sou super fã, portanto é sempre legal encontrar uma receita criativa com esse verdinho. Esta aqui, com leite de coco e coentros, me parece muito gostosa.

Outro ingrediente para o qual gosto de encontrar versões diferentes, é o humilde arroz (mas não malandro, não frio, trauma de infância...). Esta receita de arroz palestino parece ser totalmente a minha praia (mas pretendo substituir por arroz integral, parcialmente cozido, já que demora séculos a ficar pronto).

Sunday, June 29, 2014

Quanto a Bristol

É estranho sentir um certo pesar nesse início de despedida à cidade que foi nossa casa nos dois anos e sete meses mais recentes, pois não me lembro de algo semelhante em relação a Londres, por um exemplo, um lugar onde tive uma vida mais verdadeira, onde passei muito mais tempo, onde deixei amigos. É um frio na barriga, uma nostalgia deslocada. Aqui não tenho um canto sobre o qual possa dizer, "era onde ia quando precisava refletir, ou olhar vitrines, ou namorar livros, ou tomar um café acompanhado de uma torta maravilhosa". Tenho muitas memórias visuais, outras tantas gastronômicas (neste aspecto, sim, aproveitamos até que bem), mas a cidade sempre me pareceu vista da janela do trem.
Só pode ser mesmo pelo fato de aqui ter acontecido algo super importante - o nascimento da minha filha. Só pode ser essa a explicação, pois a beleza e o resto foram apenas parcialmente vividos; os laços, inexistentes.
Pensando melhor, acho que parte desse lamento vem justamente de não ter conhecido bem a cidade e as suas pessoas, não ter criado uma narrativa mais holística num lugar tão bonito e interessante. Talvez em Londres a despedida tenha sido mais fácil porque a cidade jamais deixará de fazer parte de mim, porque conheço suas ruas e seus climas e seus habitantes, porque era a cidade dos meus sonhos adolescentes e onde acabei amadurecendo [um pouco]. Quanto a Bristol, uma pena.
Vejo-me, portanto, a tirar fotos de coisas insignificantes, para tentar criar uma teia de memórias por onde a minha filha possa passear sem se enroscar muito, cujo desenho lhe mostre como era tudo nos seus primeiros anos de vida, a cidade, a casa e o bairro onde ela nasceu e dos quais não irá se lembrar. Eu praticamente não tenho registros dos meus primeiros anos de vida, eram outros tempos e, meus pais tinham uma visão muito utilitária da vida. Sinto falta disso.
Enquanto isso...
O jardineiro começar a aparar, podar, arrancar o matagal do quintal amanhã. É realmente a única coisa de que vou sentir falta nesta casa (isso, claro, se a próxima não for uma caixinha de surpresas desagradáveis), desse espaço relativamente privado e selvagem, onde a minha filha e a minha gata podem ser aventurar tranquilamente; onde tudo, para esses seres inocentes, é de certa forma misterioso e divertido, mesmo em meio ao caos.
Off topic, mas ainda dentro do tema:
Na semana que passou, os meus sogros estiveram aqui para dar uma mão com a organização da mudança, distrair a V. e foi muito proveitoso, apesar de estarmos ainda a uma certa distância de um progresso mais significativo. Mas muita tralha já se foi, algumas coisas foram embaladas, outras levadas para os dias em que ficaremos com eles. Na derradeira noite, eles nos levaram para jantar aqui, um lugar à primeira vista pomposo, mas é só mesmo uma primeira impressão, pois os empregados de mesa são super atenciosos, vestem-se à vontade e deixam você aproveitar a refeição - que, por sinal, foi excelente - em paz, sem frescuras adicionadas. É uma atmosfera de pub, num ambiente requintado, o que é meio esquisito.
É um cardápio bem carnívoro – o nome do lugar já o diz – mas tinha opções de peixe e vegetarianas, que foram a minha escolha. A entrada foi o que me marcou, esta aqui:
Couve-flor frita com molho de tahini e limão, pimenta e coentros por cima. Divina, é fácil de copiar em casa. Queria deixar o registro, pois é mesmo muito boa.

Friday, June 20, 2014

Junho

Junho, aqui na ilha, é um mês de intempéries, portanto sempre uma boa época para viajar e deixar o bolor de lado, antes da invasão massiva dos turistas nos destinos mais cobiçados do hemisfério norte.

Mas é claro que, uma vez que férias para nós no momento são um absoluto no-no e temos de lidar com cinquenta mil coisas ao mesmo tempo, este Junho em particular tem sido solarengo, morno, um prelúdio do verão. É claro, porque temos uma casa praticamente sem armários, sem espaço onde colocar as caixas e afins, acarpetada e muito abafada no andar de cima, onde está sempre uns 8 graus a mais do que no exterior e os cômodos já não acomodam mais nada, é claro que Junho tinha de ser assim - atípico. Há os dias mais frescos e com pancadas de chuva, mas o calor do interior da casa não se dissipa tão fácil. Eu, o que é raro, andava a rezar por uns dias de chuva, que não me façam sentir claustrofóbica e mais desesperada ainda com as montanhas de tralhas.

Enquanto isso.

Aluguel temporário. Check.

Aluguel. Check.

Hotel para a gata. Check.

Transportadora. Check.

Esvaziamento da conta bancária. Check.

Eu tinha dito que empacotar era a parte que não me assustava, certo? Esqueçam o que eu disse.

Tuesday, June 10, 2014

Enquanto isso

E neste arruma-arruma, joga isso fora, coloca aquilo na ebay, separa para doar às lojas de caridade, eu fico stressada. Demais. O empacotar não me preocupa, é um processo mais direto. É a preparação que acaba comigo, são as pequenas decisões a serem tomadas várias vezes ao dia. É o receio de colocar certas coisas no caminhão de mudança e nunca mais vê-las.

Como mencionei antes, já cometi erros em mudanças, perdi objetos importantes, tive de me desfazer de coisas às pressas. E já mudei de país quatro vezes: Brasil-Inglaterra-Portugal-Inglaterra. É a quinta e, nem por isso, mais fácil. Tenho agora a ansiedade adicionada de ter de resolver o destino dos pertences de V.

A questão é que ontem percebi que o meu stress não é aparente, eu não fico a pensar muito nisso. Eu passo o dia calma, faço tudo de forma um pouco caótica, mas sem perder a pose. Daí, num momento inesperado, quando estou a descer as escadas, sinto um aperto no peito, uma ligeira falta de ar. Ou acordo no meio da noite, tremendo. Ou seja - eu sufoco o stress, e ele me pega desprevenida. Eu tento afugentá-lo, mas é uma luta praticamente inútil, porque a causa está arraigada demais. Um dos motivos de estar a seguir o regime alimentar que sigo é ajudar na gestão do stress, que me faz imenso mal. E não é só comida, são também os os suplementos alimentares, os chazinhos, o calmante natural que tomo três vezes ao dia. Foi-me recomendada a ioga, mas nem por isso. Quando e como?

O que percebi ontem também que não são as coisas em si, mas o que elas representam que me causam angústia. Eu olho para uma caixa de cartões de aniversário e de Natal e quero colocar tudo no lixo. É a minha vontade. Mas sei também que, uma vez ou outra, vou reler esses cartões, que serão um travesseiro confortável no final de tudo. E isso me paralisa.

O meu problema, portanto, não é o apego aos objetos, mas ao seu significado. É a minha mania de atribuir esse tal significado a quase todos os objetos. São as perdas que sofri que me deixam nesse constante estado de ansiedade e receio de ver tudo ruir de uma hora para outra, que me fizeram buscar segurança em coisas.

E tem também o elemento "medo da mudança". Porque é algo que quero há tanto tempo que não sei muito bem o que fazer agora que está a se concretizar. Medo de ter sido tudo apenas uma grande teimosia minha.

Não é fácil descobrir tudo isso às três horas da tarde, ter o insight do problema mas não o da solução. Que ele venha também.

Friday, June 6, 2014

Food styling

Há muitos blogues que leio cuja fotografia é excelente. Algumas blogueiras, inclusive, passaram a trabalhar como food stylists, o que é muito interessante - trabalhar com fotografia e comida ao mesmo tempo deve ser muito legal. Há fotos que são verdadeiras naturezas-mortas, com enquadramentos, iluminação belíssimos. Comida tem a sua beleza, e não é muito difícil, em certos casos, capturar o valor estético de um ou mais ingredientes.

E há também os adereços - a louça, a mesa, os talheres, o ambiente.

Mas, não sei. Eu às vezes acho tudo um pouco artificial, essa mania que agora temos de mostrar uma casualidade encenada. É como a fast food que vem servida em tábuas com molhos espalhados - um conceito lúdico que visa demonstrar falta de pretensão, mas que acaba por ser pretensioso e até pouco higiênico. O Jamie Oliver prepara e serve alguns dos seus pratos nessas tais tábuas e - surprise, surprise! - elas estão à venda na rede Jamie's Italian, que eu adoro.

Ou as batatas fritas que vêm em baldinhos de metal. Eu não sei o que realmente acrescenta ao prato. Talvez haja alguma ciência por trás disso - as batatas se mantêm mais estaladiças, ou o apelo visual estimule o apetite. A questão é que, para mim, tanto faz (principalmente porque é raro eu pedir batatas).

Eu gosto mesmo é de identificar o que estou comendo, holisticamente. Não vejo muito a necessidade de desconstruir, a não ser no passo-a-passo de uma receita. O problema é que, nesta era tão visual, o estético parece prevalecer, e às vezes as coisas vão um pouquinho longe demais. Nada contra um prato de comida bem apresentado, fotografado num cenário bonito. Mas se fazemos em casa, por que não mostrar a verdade? Por que esconder? Por que criar um cenário e adicionar adereços? Porque não contextualizar de uma forma mais real?

Rabugice minha, eu sei. Um dia desses me rendo ao food styling, começo a espirrar ketchup nas paredes e tudo isso fica contraditório.

Estava pensando nisso porque hoje almocei isto e queria compartilhar porque é simples, delicioso e muito nutritivo: quinoa com grão, salteada no azeite com anchovas picadas e limão, coentro e gergelim/sésamo por cima, brócolis para acompanhar. Não sei o porquê, mas o tom ficou meio azulado e eu, com preguiça de tentar corrigir. Ou seja, o food styling é inexistente, mas é essa a realidade, incluindo a V. que queria assaltar o meu prato (pelos simples prazer da brincadeira, nada a ver com fome) e as sacolas de compras que aterrissaram há alguns dias na cadeira ao lado dela.

Thursday, June 5, 2014

Nasoplastia (ou photoshopped since 2006)

Ao encontrar umas fotos que fiz no Porto em 2006 para a faculdade e o cartão Andante, percebi que meu nariz foi alterado. O fotógrafo me deu as pequenas mais uma maior de brinde, mas não prestei grande atenção a nenhuma, pois não gosto de me ver em fotografias, principalmente as de documentos. E foi na maior que acabei de notar o meu nariz de princesinha da Disney. Eu me lembro de o senhor dizer que iria fazer uns ajustes no tom da pele, etc. Eu não sabia que tinha um nariz ofensivo. Se algum dia quiser fazer uma nasoplastia, já sei o que esperar.

Tuesday, June 3, 2014

I will miss my roses

Os dias são uma mistura de exaustão e empenho em direção à mudança que parece cada vez mais palpável, mas porque o demônio mora nos detalhes, não consigo relaxar.

São dúvidas, novos preços, novos contextos. E ansiedade. Receio de que esteja a ignorar algum detalhe, alguma circunstância que se antecipe a mim.

Enquanto isso, vou me deliciando com os sabores simples e nipônicos da macrobiótica, perfeitos para a comida do dia-a-dia. Arroz integral com um bocadinho de molho de soja - sim, a maldita, mas descobri uma marca de tamari orgânico, com ingredientes naturais, sem açúcar ou corantes, e só coloco um tantinho mesmo -, um pouco de gomashio (sésamo e sal), vegetais, às vezes peixe, tudo salteado com cebola picada - o meu tipo de comida, muito antes de saber que tinha um nome. Todo esse tempo eu a me entupir de massa aglio e olio com atum e a pular refeições por passar da hora de comer, quando os almoços mais simples e saciantes estavam a um livro de distância. Como já havia escrito antes, não vou me converter à macrobiótica completamente, mas é uma filosofia alimentar - e de vida - interessante, contanto, é claro, que não seja levada com fanatismo (como qualquer outra coisa). É uma mistura de macrobiótica ao almoço, combinação de alimentos com base na medicina chinesa à noite, e alguns pecados e pratos mais "normais" (mas sempre de olho no glúten, na lactose e frutose) no meio de tudo. Uma espécie de caos equilibrado.

Mas vou confessar - ontem à noite comi fígados de frango (orgânicos) salteados no vinho com cebolas e salsa, acompanhados de uma pequena torrada de pão de trigo sarraceno e salada de rúcula e havia SÉCULOS que não me sentia tão bem após comer. Digestão perfeita, sabores divinos, boa noite de sono. Sou eu, a simpatizante dos carboidratos complexos, contra o meu metabolismo claramente carnívoro.

Enquanto isso.

Cansada de ver todos os produtos porcaria daqui com "brazilian flavour", "flava of brazil", etc, etc, tudo verde e amarelo e caricato. Sem contar os documentários sobre o Brasil, o futebol, a alegria de viver, a violência, as gangues das favelas, etc, etc. Muito sono, muito tédio. Copa, venha logo e vá embora mais depressa ainda (já adorei, mas hoje em dia tenho pouca paciência para histerias coletivas).

Mas tenho acompanhado Roland Garros, porque adoro a calma e a atmosfera do circuito do tênis. Eu outro dia chorei, sem perceber, ao ver uma troca de bolas sensacional entre dois jogadores. Há algo muito zen e bonito naquilo. Acompanho o torneio enquanto organizo, destruo, reciclo a quantidade enorme de papelada. A ideia é dar cabo, primeiro, do escritório, depois dos quartos e da cozinha. Enquanto isso, A. se encarrega da garagem, que abriga metade do que ele possui. E eu tento praticar o desapego, encontrar justificativas aceitáveis para me livrar de coisas e não me arrepender depois. Porque com tantas mudanças, com o ter de desfazer o meu lar brasileiro, já doei sem querer doar, já doei querendo e me arrependi depois, já vendi e perdi dinheiro, entre tantas outras coisas. Mas quero uma carga mais leve, quero acreditar que é mesmo uma ilusão nos apegarmos a coisas demais, porque tudo pode ser sentimental, porque é tudo passageiro. Então, é melhor seguir uma espécie de minimalismo sentimental, sem exageros, porque as coisas não trazem as pessoas e o tempo de volta.

Enquanto isso.

Vou cada vez mais desconfiada das pessoas. Cada vez mais sensível à falsa camaradagem, aos comentários sonsos que muitos aqui fazem em vez de irem direto ao assunto, ou melhor - ficarem calados. E isso inclui os vizinhos, a mulherada do centro de recreação infantil, as funcionárias do infantário que V. agora frequenta três tardes por semana (e que nos custa o triplo do que cinco tardes por semana num infantário português custaria, roubalheira) para podermos empacotar e organizar, e para que ela se divirta e socialize com outras crianças. É ótima a tranquilidade, o tempo rende, mas fico ansiosa para ver a minha pequenota de novo ao final da tarde.

Demos uma carpinada no jardim, mas vai precisar mesmo de mãos profissionais. Entre tantas coisas, podei cruelmente as roseiras, cansei de ver as folhas e pétalas doentes. Por mais lindo que seja tomar o café da manhã e admirá-las pela janela - temos brancas, rosadas (!!!!!!), salmão, pink e vermelhas - entre o final da primavera e os meados do outono, ir respirar o seu perfume (o meu predileto, e cada cor tem um cheiro distinto) cedinho quando o tempo permite, elas precisavam ser domadas. Uma já estava a se enroscar pelo telhado da garagem. Roseiras são plantas selvagens, te digo. Lindas e territoriais.

Um exemplo do meu sentimentalismo - olho para elas e penso que vou sentir falta desses cinco meses em que encantam o meu jardim desordenado. E vou mesmo, I will miss my roses, these things which aren't mine.