Tuesday, June 3, 2014

I will miss my roses

Os dias são uma mistura de exaustão e empenho em direção à mudança que parece cada vez mais palpável, mas porque o demônio mora nos detalhes, não consigo relaxar.

São dúvidas, novos preços, novos contextos. E ansiedade. Receio de que esteja a ignorar algum detalhe, alguma circunstância que se antecipe a mim.

Enquanto isso, vou me deliciando com os sabores simples e nipônicos da macrobiótica, perfeitos para a comida do dia-a-dia. Arroz integral com um bocadinho de molho de soja - sim, a maldita, mas descobri uma marca de tamari orgânico, com ingredientes naturais, sem açúcar ou corantes, e só coloco um tantinho mesmo -, um pouco de gomashio (sésamo e sal), vegetais, às vezes peixe, tudo salteado com cebola picada - o meu tipo de comida, muito antes de saber que tinha um nome. Todo esse tempo eu a me entupir de massa aglio e olio com atum e a pular refeições por passar da hora de comer, quando os almoços mais simples e saciantes estavam a um livro de distância. Como já havia escrito antes, não vou me converter à macrobiótica completamente, mas é uma filosofia alimentar - e de vida - interessante, contanto, é claro, que não seja levada com fanatismo (como qualquer outra coisa). É uma mistura de macrobiótica ao almoço, combinação de alimentos com base na medicina chinesa à noite, e alguns pecados e pratos mais "normais" (mas sempre de olho no glúten, na lactose e frutose) no meio de tudo. Uma espécie de caos equilibrado.

Mas vou confessar - ontem à noite comi fígados de frango (orgânicos) salteados no vinho com cebolas e salsa, acompanhados de uma pequena torrada de pão de trigo sarraceno e salada de rúcula e havia SÉCULOS que não me sentia tão bem após comer. Digestão perfeita, sabores divinos, boa noite de sono. Sou eu, a simpatizante dos carboidratos complexos, contra o meu metabolismo claramente carnívoro.

Enquanto isso.

Cansada de ver todos os produtos porcaria daqui com "brazilian flavour", "flava of brazil", etc, etc, tudo verde e amarelo e caricato. Sem contar os documentários sobre o Brasil, o futebol, a alegria de viver, a violência, as gangues das favelas, etc, etc. Muito sono, muito tédio. Copa, venha logo e vá embora mais depressa ainda (já adorei, mas hoje em dia tenho pouca paciência para histerias coletivas).

Mas tenho acompanhado Roland Garros, porque adoro a calma e a atmosfera do circuito do tênis. Eu outro dia chorei, sem perceber, ao ver uma troca de bolas sensacional entre dois jogadores. Há algo muito zen e bonito naquilo. Acompanho o torneio enquanto organizo, destruo, reciclo a quantidade enorme de papelada. A ideia é dar cabo, primeiro, do escritório, depois dos quartos e da cozinha. Enquanto isso, A. se encarrega da garagem, que abriga metade do que ele possui. E eu tento praticar o desapego, encontrar justificativas aceitáveis para me livrar de coisas e não me arrepender depois. Porque com tantas mudanças, com o ter de desfazer o meu lar brasileiro, já doei sem querer doar, já doei querendo e me arrependi depois, já vendi e perdi dinheiro, entre tantas outras coisas. Mas quero uma carga mais leve, quero acreditar que é mesmo uma ilusão nos apegarmos a coisas demais, porque tudo pode ser sentimental, porque é tudo passageiro. Então, é melhor seguir uma espécie de minimalismo sentimental, sem exageros, porque as coisas não trazem as pessoas e o tempo de volta.

Enquanto isso.

Vou cada vez mais desconfiada das pessoas. Cada vez mais sensível à falsa camaradagem, aos comentários sonsos que muitos aqui fazem em vez de irem direto ao assunto, ou melhor - ficarem calados. E isso inclui os vizinhos, a mulherada do centro de recreação infantil, as funcionárias do infantário que V. agora frequenta três tardes por semana (e que nos custa o triplo do que cinco tardes por semana num infantário português custaria, roubalheira) para podermos empacotar e organizar, e para que ela se divirta e socialize com outras crianças. É ótima a tranquilidade, o tempo rende, mas fico ansiosa para ver a minha pequenota de novo ao final da tarde.

Demos uma carpinada no jardim, mas vai precisar mesmo de mãos profissionais. Entre tantas coisas, podei cruelmente as roseiras, cansei de ver as folhas e pétalas doentes. Por mais lindo que seja tomar o café da manhã e admirá-las pela janela - temos brancas, rosadas (!!!!!!), salmão, pink e vermelhas - entre o final da primavera e os meados do outono, ir respirar o seu perfume (o meu predileto, e cada cor tem um cheiro distinto) cedinho quando o tempo permite, elas precisavam ser domadas. Uma já estava a se enroscar pelo telhado da garagem. Roseiras são plantas selvagens, te digo. Lindas e territoriais.

Um exemplo do meu sentimentalismo - olho para elas e penso que vou sentir falta desses cinco meses em que encantam o meu jardim desordenado. E vou mesmo, I will miss my roses, these things which aren't mine.

4 comments:

  1. Dani, vejo que a mudança está mesmo para acontecer, que bom :)
    Mudanças são sempre complicadas e o desapego, que na teoria é perfeito e lógico, na prática pode ser muito duro. Mas tudo é uma questão de treino...
    Em relação à alimentação gostei da expressão "caos equilibrado", acho que é mesmo por aí.
    Espero que aqui também possas um dia ter roseiras, para que não te falte nada :)
    Bjs

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    1. Oi, querida! Sim, o desapego é mesmo uma dessas coisas em que a teoria é linda e sensata, mas a prática, muito difícil. É mesmo, como com vários outros assuntos, uma questão de mudar a perspectiva, enxergar a realidade de forma mais crua. Estou treinando :)
      Vamos ver se corre tudo bem, estamos no meio do caos e à espera de respostas, acho que consigo sobreviver sem as rosas por um tempo ;)
      Beijos!

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  2. Olá :) Depois de amanhã alongo-me em questionamentos, mas para já, assim de rajada: vais mudar? para onde? Porto? :)))))
    Beijinhos!

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