Ontem foi o Dia das Mães aqui em terras anglo-saxônicas, portanto nada mais justo que eu, que passo grande parte da semana cozinhando à la carte para a pequena família e lavando toneladas de louça, fosse contemplada com uma refeição num bom restaurante. Nesse caso, em um gastropub aqui de Bristol.
A nossa vida social é praticamente nula, moramos num país em que a cultura de cafés mais modernos geralmente não oferece nada além de paninis insossos, saladas anêmicas e sopas, ou seja, é muito raro comermos fora durante a semana, pois tosta com queijo por tosta com queijo prefiro a minha, que sai bem mais em conta. Bom, pelo menos na área em que moro, as opções não são tantas quanto em Londres, por exemplo, que tem uma cena gastronômica mais efervescente, variada e bem distribuída, incluindo desde street food até os restaurantes venerados pelos críticos. Bristol tem ótimos restaurantes, mas mais na área central e no campo ao redor.
Com exceção das opções asiáticas e das pizzas (de forno de lenha, de verdade) que pedimos uma vez por semana nos takeaways da vida, a cozinha aqui em casa é caseira. Não saímos para beber, dançar, não vamos ao cinema, ou seja - comer fora aos fins-de-semana é a nossa distração ocasional, e quando o fazemos, tem de ser em lugares com uma certa reputação, principalmente nas datas comemorativas, não nos importamos de gastar um pouco mais porque compensa em todos os sentidos - e faz bem aos sentidos.
E do que eu mais gosto nesta terra é dos gastropubs, é algo de que vou sentir imensas saudades quando nos mudarmos daqui. Eu adoro pub grub, adoro comida simples feita com ingredientes robustos, sazonais e bem preparada - e em porções generosas. Um bom assado, uma opção simples e saborosa de mariscos, uma sobremesa que parece feita pela avó, legumes e verduras frescos. É comida britânica no seu melhor, para aqueles que ainda não entenderam que a culinária daqui é boa demais. Acho que, como a italiana, a boa gastronomia inglesa se destaca pela valorização do ingrediente, celebrando-o de forma simples, com nada a mais ou a menos. Sim, é verdade que há muita junk food, é verdade que a maioria é preguiçosa e prefere comprar refeições prontas ou congeladas no supermercado, comer sanduíches ao almoço, que as gerações mais antigas têm medo de temperos, que os cafés baratos - greasy cafes -, só oferecem variações de fritura, é verdade. Mas a comida de pub, entre outras opções de restaurantes também excelentes, é a que poderíamos chamar de típica, é a melhor.
Não vou fazer uma crítica extensiva do pub, que recomendo muitíssimo, mas tinha de registrar o que foi uma das coisas mais simples e ao mesmo tempo sofisticadas que já comi - a minha entrada. E as cenouras. Você sabe que comeu comida honesta e boa quando até as cenouras, em estado praticamente natural, sem nenhum tipo de frescura, causam boa impressão.
O chefe resolveu chamar isso de squid stew (ensopado de lulas), mas é na verdade um bisque, com lulas incluídas. Acho que a escolha da nomenclatura foi para não cair muito para o francês e confundir os clientes.
O acompanhamento também era fantástico, um rouille que sabia a mariscos, para passar na torrada ou acrescentar ao prato. Eu estava com o nariz parcialmente entupido, mas mesmo assim senti a picância e as nuances dos sabores, principalmente da erva-doce, um tempero que entrou para o rol dos meus favoritos. Eu acho que era erva-doce também a aromatizar as cenouras, acompanhamento do prato do A.. Eu vi a mesa ao lado deixar grande parte das cenouras e quase pedi para passarem para a nossa, ao melhor estilo, "acabaram? não se importavam de compartilhá-las conosco?". Detesto desperdício.
Alguém, no entanto, preferiu o papel com desenhos para colorir.