Wednesday, November 12, 2014

Bolo de fubá e coco

Eu ando meio obcecada com a queijada de laranja de um supermercado famoso. Provei e virei fã, mas tenho conseguido me controlar - apesar de pensar nela o tempo todo. Foi por isso que resolvi fazer um bolinho no mesmo estilo - dura mais, é "mais saudável", congelo metade e tira um pouco dessa fissura por doces que chegou com o frio.

Seguindo a linha "bolos não muito doces", ficou ótimo (quando não fica, não falo deles aqui), com uma textura macia, doçura equilibrada. Ia colocar goma xantana, esqueci, mas não fez falta alguma. Não ficou é com gosto de laranja, portanto vou experimentar excluir a bebida de coco e usar uma xícara inteira de suco [sumo] na próxima vez. Fica para a próxima, também, a receita de um bolo de alfarroba que foi devorado em menos de 24 horas, impossibilitando, portanto, a ilustração do post respectivo.

Bolo de fubá e coco

1 xícara de fubá fino (farinha de milho)

1/2 xícara de farinha branca sem glúten (usei uma mistura, mas acho que a de arroz deve funcionar bem; pode usar a de trigo, só não sei se é preciso ajustar a quantidade)

1/2 xícara de coco desidratado ralado

1/2 xícara de açúcar de coco, 1/2 do amarelo ou mascavado (pode usar 1 do amarelo/mascavado, q.b.)

1/2 xícara de bebida ou leite de coco

1/2 xícara de suco de laranja natural

1 colher de sopa bem cheia de gordura de coco amolecida

4 ovos pequenos (ou 3 grandes)

1 colher de sopa de fermento

Bater as claras em neve [castelo] e reservar. Noutra tigela [taça], bater as gemas com o açúcar e a gordura de coco. Acrescentar o leite de coco/suco de laranja (se quiser eliminar a laranja, dobre a quantidade do leite e vice-versa) e misturar bem. Acrescentar o coco, as farinhas, sempre misturando. Por último, o fermento e as claras batidas, incorporando-as gentilmente. Leve ao forno pré-aquecido (médio ou 180ºC) por cerca de 30-35 minutos.

Reparem no individual, um verdadeiro artigo vintage com uma ilustração do Hampton Court Palace, era o xodó de A. na infância.

O bolo foi aprovado por V., que o chama de "bol" e "queque" (querendo dizer "cake"). Fiz uma caldinha de suco de laranja e açúcar para jogar por cima, fiquei frustrada porque o sabor não era bem o que que eu queria!

Monday, November 10, 2014

Da nostalgia

Talvez pela onda incessante de nostalgia e cultura vintage nos anos mais recentes, há um artigo no The Guardian hoje sobre o poder da nostalgia e o seu efeito terapêutico.
Eu tenho uma relação ambígua com a nostalgia. Gosto de relembrar as coisas, mas não de passar muito tempo a divagar no passado; fica um sentimento de algo errado, de impotência. Não acredito em muitas coisas, mas às vezes gosto de fantasiar que certos tempos continuam a existir numa outra dimensão temporal-espacial, num loop constante de momentos bons, ou sempre numa evolução positiva, sem entropia, desfechos trágicos ou sofridos. Um mundo paralelo em que tudo acaba bem, de forma justa. Mas sei que isso é puro pensamento mágico, para minimizar alguns dos acontecimentos que me atropelaram pela vida.
Gosto de manusear ou ter em exposição objetos com carga sentimental, ou que remetam a alguma coisa relativa à minha história mesmo que não sejam meus, mas prefiro não acumular velharias. Prefiro, mas me custa. Gosto de fotos velhas, mas não gosto que me encarem o tempo todo. Como disse, não sei muito bem o que fazer com essas evocações do passado: às vezes amo-as, às vezes delas fujo como o diabo da cruz.
Dentro desse tópico, há as reuniões com colegas de escola, faculdade, que são possibilitadas pela existência das redes sociais e dos emails, é muito difícil desaparecer hoje em dia (embora a pessoa mais mal resolvida da minha vida seja impossível de encontrar, mesmo, mas ela sempre foi boa nisso). Por incrível que pareça, mesmo que o Natal ainda não esteja tão assim à porta (essas reuniões costumam acontecer lá pelo início de dezembro, pelo menos no lugar de onde venho), recebi dois convites para participar "virtualmente" de dois encontros (convites que recusei, porque seria complicado) no fim de semana que passou: um dos alunos da escola que frequentei por 8 anos (do pré ao que costumava chamar de 8ª série, ou seja, onde passei de criança a adolescente); outro das amigas do que se chamava colegial (dos meus 15 aos 18 anos, estava numa classe feminina).
Eu me lembro de voltar da minha última aula da 8ª série e pensar, "como vou deixar de fazer este caminho, como vou ficar sem meus amigos e professores (embora alguns fossem para a mesma escola de 2º Grau em que eu tinha me matriculado)"? Demorei um pouco mais de uma semana para me adaptar à nova escola; felizmente, adorei tudo, os novos e velhos amigos, os professores, as matérias mais avançadas. Foi uma época muito legal, de amizades simbióticas, confissões, convívio, paixões, músicas, filmes e livros; foi como ter descoberto uma nova família. O mesmo aconteceu na faculdade.
Curiosamente, apesar de ter "crescido" na primeira escola, apesar da nostalgia, de ainda sonhar com ela e suas escadarias às vezes, é a de que menos sinto saudades. Ainda tenho contato com algumas pessoas de lá, queridas, mas como um todo, não me identifico muito com as pessoas com quem cresci, não houve um prosseguimento de convívio, o que acabou por diluir a suposta intimidade que tínhamos. Ao ver as fotos do tal reencontro na sexta-feira, não senti grande coisa, mais talvez por ter apenas reconhecido umas três, quatro pessoas.
O segundo foi um pouco mais complicado. Vi a foto das meninas e é realmente como o tempo não tivesse passado - e olhem que passou MUITO tempo. Os mesmos rostos, foi um baque. Um dos motivos de eu ter recusado a participação foi, porém, o fato de ter me afastado de duas delas e me sentir um tanto desconfortável com uma terceira. Com uma, "briguei" num dos piores momentos da minha vida - em que ela foi extremamente deselegante e insensível, além de eu ter descoberto algumas mentiras passadas. Com outra, o desentendimento foi recente no querido Facebook - de novo, falta de modos, indiretas, pensamentos obtusos, etc, etc. No caso da terceira, é um pouco mais complicado e sutil: digamos que ela tenha um comportamento um tanto "stalker" em relação a mim.
Vê-las naquelas fotos despertou sentimentos tão ambíguos quanto aos que tenho em relação à nostalgia. Posavam todas felizes, e era claro que estavam, mas posavam mais como as pessoas que eram, não as que acabaram por se tornar. Eram elas, mas não eram. Eu as vi e queria ter ido, mas foi um pouco de, novamente, pensamento mágico - queria que não tivessem havido decepções, traições, estranhamentos. Daí pensei que, se fossemos tão amigas assim, não teríamos nos distanciado praticamente logo após a entrada na faculdade. Tivemos um laço forte, mas circunstancial, e isso me encheu de tristeza, éramos tão felizes e espontâneas. E faltava uma delas, a mais querida, que desapareceu do mundo de vez, cinco anos após a nossa formatura. Não sei se a nostalgia faz tão bem assim.

Tríade do falhanço

Eu não sei preparar (preparar, não cozinhar): 1- Sardinhas (e olhem que passei a infância a limpá-las com a minha mãe, não sou adepta das tripas!); 2- Bacalhau (confesso que comprei o congelado e pronto a cozinhar); 3- E marmelos (o que é o caroço, como removê-lo, como cortar o marmelo da forma correta). Tenho um sangue luso meio fajuto.

Thursday, October 30, 2014

Coincidência?

Você ouve falar de uma grande agência do seu setor que, no momento, quer contratar apenas trabalho "semi-escravo", pagar abaixo dos preços do mercado e, não bastasse isso, inunda a caixa de entrada dos seus colegas com pedidos insistentes para que trabalhem para eles, num esquema quase de bullying. Daí, na lista de contatos sugerida pelo LinkedIn, vê uma das recrutadoras da tal agência que, para ilustrar o seu perfil, escolheu uma foto em que está mais vestida (no hall do que deve ser a sua casa) para seduzir candidatos de um site de relacionamentos do que para passar uma imagem profissional. Nada é por acaso.

Do vestir-se [versão infantil]

Uma das coisas em que não tinha reparado nas minhas visitas e estadia de um ano aqui no Porto é o como as crianças se vestem (ou são vestidas, para ser mais exata). Talvez, claro, por não ser mãe ainda e eu mesma pouco me importar, exceto nas ocasiões que tenham um código de vestimenta, com o que pensam das minhas roupas. Eu não me visto totalmente mal, mas há muito tempo que não me visto bem. Eu me visto como posso, mas para os padrões portugueses - que são semelhantes aos brasileiros - acho que atraio eventuais olhares de reprovação.

A minha filha nasceu e passou seus dois primeiros anos de vida na Inglaterra, onde a questão da moda, adulta e infantil, é muito liberal, com exceção de alguns lugares esquisitos como aquele onde morei e em que sempre recebia olhares de cima a baixo quando chegava a um evento ou reunião de conhecidos (bom, mas se até o meu tapete recebeu uma inspeção quando pensaram que eu não estava atenta...). Talvez pela maldade do clima, as crianças são estimuladas a enfrentar os elementos, a interagir com materiais orgânicos (o que não inclui dejetos de animais, não se preocupem), a não terem frescuras, pois do contrário ficavam só trancadas em casa e alienadas do mundo. Para ter uma ideia, um dos grupos de atividades do centro de recreação infantil que ela frequentava chamava-se "Let's get messy" ("vamos nos sujar!"). Diz o meu pai, como dizem várias pessoas "das mais antigas" (o que não certifica isto como fato científico, vale dizer, parece que é balela), que mexer na terra, areia, etc, ajuda a fortalecer o sistema imunológico [imunitário], portanto nunca me preocupei muito (só um pouquinho, vai!). Foi esse o clima do início da vida da pequenota - inclua aqui o fato de termos um jardim semi-selvagem no quintal, que ela adorava explorar.

Portanto, a maioria das roupas da minha filha são o que se chama de "roupas de bater", ou seja, práticas e para serem sujadas, baratas sem serem de péssima qualidade, não para controlá-la a fim de não estragar o visual de boneca (mas, claro, ela tem uns outfits mais arrumadinhos para ocasiões que exigem). Eu não estou a criticar quem veste os filhos todos matchy-matchy, se o seu orçamento permite e o estilo de vida exige, se o seu gosto é por visuais de vitrine, quem sou eu para julgar. Mas a minha filha certamente não é uma criança que se encaixa no perfil de menina quietinha e bem vestida. Ela gosta de terra, areia, pedras, grama [erva]. Assim que vê um pedacinho de natureza, literalmente se joga. Ajoelha-se, coleta, leva coisas à boca (sob nossa supervisão, claro), quer tocar, sentir. Sapatinhos azul-marinho envernizados com meias da mesma cor (é uma tendência? vejo tanto!) seriam detonados na primeira ocasião. E isso não se aplica apenas ao mundo exterior; nos parques infantis dos shopping centers, por exemplo, ela gosta é de sentar no chão. Sem mencionar os cabelos - não gosta que lhe toquem nas madeixas, arranca fivelas [ganchinhos] e elásticos, passa comida na franja, laçarotes e golas de Camões são utopia. Outro dia, no ônibus [autocarro], tive de ouvir comentários de que ela estava despenteada e com calor (era o dia do meu aniversário, ela estava arrumadinha, mas saímos de casa com céus cinzentos e promessa de chuva, mas o tempo virou e fez calor o dia inteiro) - a senhora, que disse isso à neta, pensou que não falávamos português, mas eu logo deixei claro que tinha entendido as palavras tão agradáveis.

Se dou uma saída rápida com ela antes do banho, muitas vezes não enxergo o quanto ela está encardidinha das brincadeiras do dia (o andar de baixo da casa que arrendamos é bem escuro, não vou deixar os estores escancarados o tempo todo); ou se estamos de retorno de uma ida à praia e paro para fazer compras, por exemplo, não é incomum eu ver, diante da iluminação inclemente dos supermercados, que ela está num estado calamitoso (dou uma espanada geral, mas prefiro banhá-la só em casa, a não ser que esteja muito suja). Fico um pouco constrangida porque começo a reparar nos bebês e crianças ao meu redor e estão sempre impecáveis e me pergunto como as outras mães conseguem; acho as outras crianças tão comportadas e que devo dar a impressão de que sou desleixada. Eis algo com que eu definitivamente não me preocupava, ou notava, na Inglaterra.

Li este post ontem, que tem um pouco a ver com o assunto e que coincidiu com essa reflexão. Espero que a minha filha não seja excluída se continuar a ser assim, de um jeito mais natural, do jeito dela. Espero que essa liberdade e descontração, um pouco julgadas, resultem em algo bom.

Friday, October 24, 2014

A casa, a vida na net [notas soltas]

As pessoas gentilmente me perguntam como vai a vida e a (re)adaptação ao Porto (tecnicamente estou em Matosinhos, mas colada à Circunvalação e à Prelada, portanto o código postal é um mero detalhe), e eu respondo que vai bem, porque vai. Essa parte da vida vai tranquila porque assim como ela, sinto-me in love e tenho momentos de paz profunda, algo que não experimentava havia muito tempo, desde que deixei Londres, a minha outra casa. É um coquetel de luz, cinzentos, maresia, azulejos, pessoas e outros estímulos, que me coloca no agora em vez de num pensar constantemente em onde gostaria de estar (o que, acreditem, é desconcertante). Voltei a ter vontade de viajar para outras terras, quando antes só queria vir para cá ou lugares que remetessem, de alguma forma, a este - chega de imitações.

O resto, bom, o resto ainda precisa entrar nos lugares, mas é um processo que não iria ser resolvido do dia para a noite, uma vez que há uma lista considerável de pendências e melhorias a serem realizadas, e acho que agora, que a casa está mais ou menos arrumada, as burocracias mais ou menos resolvidas, as ansiedades emergem como aquelas doenças que ficam mascaradas devido a outras mazelas.

Gosto do espaço da casa que alugamos, a vizinhança tem todos os serviços de que precisamos - e nenhuma ladeira! -, os ônibus [autocarros] nos levam a quase todos os lugares úteis e de lazer, enfim, é uma boa base. No meio do caminho entre a praia e a Baixa. Ainda não é a casa, casa, há pormenores, mas sejamos gratos porque poderia ser pior. A gata aprova a horta urbana e as árvores do condomínio e isso é bom, apesar dos perigos da rua movimentada que sempre me deixam a fantasiar cenas mórbidas.

Acho que finalmente chegámos, mas precisamos de botar a vida em ordem. E eu preciso de um ou vários projetos, estou à caça, que como está não pode ficar.

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Algo que melhorou consideravelmente a minha qualidade de vida foi um certo afastamento do Facebook. Quem me conhece sabe que estou sempre reclamando, dizendo que vou apagar a conta, etc, etc, mas que, como quase todo mundo que reclama, pouco faço. E eu até continuo, quase sempre sem fazer o login, a partir do navegador, a publicar um ou outro post (geralmente ignorado), fotos da minha filha (em modo privado), respondo às mensagens, vejo um(a) ou outro(a) post/foto dos meus contatos, dou um ou outro "curtir", mas, como diriam os ingleses, meu coração não está ali. Eu não abro mais o Facebook para ter notícias dos amigos e familiares e ele, com exceção do Messenger, está desativado no celular [telemóvel].

Eu gosto da rede como ferramenta de divulgação e informação, gosto mesmo, mas não curto a maneira como grande parte dos meus contatos (principalmente a brasileira e a do lugar onde morei por algum tempo e que carinhosamente chamo de Dogville) a utiliza, não curto a maneira como certas pessoas tentam se impor como meus amigos sem nunca o terem sido, não gosto de ter certos familiares como "amigos" (o que me levou a ignorar certos pedidos), enfim, a lista de desvantagens continua.

Talvez seja um problema só meu e dos meus conterrâneos, mas o Facebook faz-me sentir só, muito só. E não é a solidão do isolamento físico, não. Com os nossos perfis, viramos "mini celebridades", indivíduos com personas públicas que se dirigem coletivamente aos outros sem nenhum tipo de discernimento quanto ao "público da mensagem", é extremamente impessoal e, em muitos casos, falso. Sim, é aconselhável ser reservado e/ou impessoal ao publicarmos certas coisas na net, o cerne no problema não é este, mas sim o fato de como a comunicação por Facebook parece ter substituído a real, até mesmo o email, que por alguns já é considerado pouco pessoal (do que eu discordo, o email é tão pessoal quanto qualquer outra forma de comunicação individual, o problema é usá-lo, assim como as SMS's e os posts públicos do Facebook, em lugar da comunicação direta; por exemplo, pessoas que usam o email para terminar um relacionamento). Em vez de me aproximar dos meus amigos (um dos únicos motivos de manter a conta, já que eles estão espalhados pelo mundo), sinto que estou cada vez mais distante, é como se existisse uma galáxia azul e branca entre nós.

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Eu já tive blogues de diversos tipos, uns mais duradouros, mais lidos; outros mais obscuros, quase ignorados. E sempre os apago, afasto-me por um tempo, retorno sem ter muita ideia do que escrever. É progressivo - cada vez que volto, menos sei. Por isso o tom um pouco randômico deste aqui, às vezes escravo do lugar-comum, por isso a falta de assiduidade. Mas gostaria de persistir até, quem sabe, encontrar um propósito, utilitário ou não. A metáfora, neste caso, fica a cargo dos olhos de quem lê.

Wednesday, October 8, 2014

Por Barcelos

Barcelos era um desses lugares que sempre tive curiosidade de visitar, muito por ser parte do Caminho Português de Santiago. Eu não sou religiosa, mas fiz parte do Caminho Francês de Compostela há 9 anos (os trechos de St Jean Pied-de-Port a Pamplona e, depois de um fim de semana nada espartano em San Sebastian, de Leon a Santiago de Compostela), e aquele mês de caminhadas difíceis ficou inserido na minha cronologia como referência, uma pausa essencial, em que não tive visões angélicas ou grandes insights espirituais, mas aprendi bastante sobre persistência, adaptação, ter um norte e os ritmos da vida campestre. Tenho saudades daqueles dias, e gostava de fazer parte do Caminho novamente. Curiosamente, o meu bairro está na rota, então às vezes vou ao supermercado e vejo alguns peregrinos.

Uma foto vintage de um dia parecido com o de hoje, rumo a Villafranca del Bierzo

Depois de uma quinzena de muito trabalho, o veranico da semana passada me deixou com vontade de fazer uma viagem de um dia o que é, a não ser que ficássemos hospedados num alojamento rural, a medida exata para explorar um pouco a cidade. Chegámos em dia de feira, nunca tinha visto uma tão grande nesse estilo.

No mais, é uma cidadezinha muito bonita, com peregrinos, adolescentes a granel, arquitetura interessante, lugares baratos para comer (por causa dos peregrinos!) e jardins. O único porém do dia ficou por termos nos perdido um pouco e, quando fui dar meia-volta, tropecei no carrinho da V. e levei um tombo feio, que me deixou com joelhos e cotovelos esfolados e com hematomas.

Vale mesmo um passeio.

Tuesday, October 7, 2014

Aniversário [Presentes/ prendas]

Ando cada vez menos interessada em "coisas", embora gostasse de dar uns toques na decoração aqui de casa, que está bem espartana, para não dizer quase inexistente. Então, vieram (sogra e A.) me perguntar o que eu queria de aniversário e eu logo pensei em livros de culinária, aqueles que estavam na minha wish list. Na verdade, pedi um apenas à sogra, mas ela foi generosa e me enviou logo três, o que foi muito bem recebido.

Um outro presente que me foi oferecido foram esses tênis [sapatilhas] de lona, produzidos(as) pela Cortebel em Portugal (giro!), uma marca promovida pela Silvia Silva, que tem um blogue igualmente giro. Foram estreados(as) em Barcelos, num passeio meio guilty pleasure

Os livros da pilha não têm nada a ver com a minha shortlist original de títulos voltados à alimentação vegetariana, embora um seja vegetariano e, outro, vegano (esse eu mesma comprei, antes da mudança). O fato de eu não os ter escolhido talvez tenha a ver com a minha indecisão, e os que acabei recebendo me interessaram muito mais.

O Dicionário dos Sabores, oferecido pelo A., é o que a embalagem diz, um dicionário de tipos de sabores e das combinações entre eles. Infelizmente, num dos capítulos, há um erro de tradução no título e que se estende por toda a obra: dill foi traduzido por funcho, quando na verdade é "endro". São duas plantas diferentes. Já avisei o editor, que prometeu retificar o erro caso o livro seja publicado novamente. É fantástico para quem gosta de criar na cozinha ou se vê com certos ingredientes sem saber muito bem o que fazer com eles. Tem receitas breves em algumas combinações de ingredientes e não é ilustrado.

O A Modern Way to Eat é de autoria de uma das pupilas do Jamie Oliver no restaurante Fifteen, e é também uma obra bastante abrangente, voltada para a alimentação vegetariana E saudável. Para além das receitas, há encartes no meio do livro com dicas úteis e técnicas, como calendários de sazonalidade dos alimentos e diversos modos de prepará-los (cozer, assar, grelhar,etc). É tudo muito bem explicado e interessante, acabou por ser o livro que eu procurava, numa versão 2 em 1.

Para quem curte uma linha mais hipster londrina de celebridades, o The Art of Eating Well, das irmãs Jasmine e Melissa Hemsley, também tem receitas muito boas, muitas vegetarianas e, assim como o da Anna Jones, free from (glúten, trigo, lactose, etc). O tom do livro é meio businness, no estilo "meus clientes, celebridades, etc, etc", mas também tem muitas informações legais sobre nutrição e culinária funcional (embora não utilize o termo). É um livro muito bonito.

O que eu mais queria, o The Extra Virgin Kitchen, da irlandesa Susan Jane White, é uma delícia. A escrita é despudorada, bem humorada e didática, com uma seção de "perguntas e respostas" logo no início, em que fala de açúcares e seus substitutos, glúten, etc. A impressão é de que você está na cozinha com a moça. Assim como o livro das Hemsley & Hemsley, não é 100% vegetariano, mas o é em sua grande maioria.

Por último, o livro que eu mesma comprei, de receita de veganas, o Oh She Glows, da canadense Angela Liddon. O texto não é dos mais saborosos, é bem simples e o tom, um tanto juvenil (tipo menina cheerleader que resolveu trocar os cookies por uma alimentação saudável, o que a tornou "mais radiante" [sic]), e a linguagem visual é um pouco datada (as fotos dela com o marido me deixam um pouco constrangida e não é por serem, inadequadas, não), mas as receitas - que incluem algumas de leites e queijos vegetais - resultam muito bem e são super simpáticas aos usuários caseiros. Já fiz algumas sopas e a geleia [compota] de xarope de ácer, chia e framboesas, e foi tudo muito aprovado, incluindo por A., que tem um interesse nulo em alimentos funcionais e/ou saudáveis.

Apesar de já ter testado algumas receitas, ainda estou em fase de estudar cada um dos livros, que se complementam e viraram companhia de cabeceira, alternadamente.

Aniversário [Frida]

Para não passar em branco, fomos comemorar com um almoço dominical no Frida, um restaurante que eu estava doida para conhecer desde antes de chegarmos aqui.

Gosto muito da culinária mexicana, acho que, como a italiana e a indiana, tem uma proposta que se adequa bem tanto a carnívoros como a vegetarianos e/ou "onívoros seletivos" (o meu caso, que também pode ser definido, fiquei sabendo outro dia como "flexitarian"), além de oferecer uma justaposição muito interessante de texturas e sabores. O destaque para mim: o uso do coentro sem pudor, a minha erva aromática favorita.

O ambiente é menor do que eu imaginava, mas aconchegante sem parecer apinhado. Há uma certa atmosfera de sala de estar "daquele amigo interessante, de bom gosto e que gosta de viajar para a América Central". O empregado de mesa foi prestativo, discreto, assim como um dos donos - sempre sorridente e gentil. Sei que tudo soa um enorme cliché, mas há muitos restaurantes contemporâneos que, em nome do cool, deixam um bocadinho a desejar no quesito simpatia. E nós levamos a V. , que foi muito bem recebida, não senti que estávamos no restaurante errado, como nos aconteceu outro dia - não vejo sentido em permitir a entrada de bebés se não há cadeirões à disposição.

Mas, claro, embora os press releases de alguns restaurantes adorem passar uns dois parágrafos longos a descrever a atmosfera, os lustres, o tecido das cortinas, a madeira da mobília, etc, etc, o que importa é a comida, e nisso o Frida não decepciona. Eu acabei por escolher duas opções de carne vermelha, o que é raro hoje em dia, e fui de taquitos de camarão e pato defumado na entrada e magret do mesmo bicho (claro!) para o prato principal. Geralmente, peço peixe ou vegetariano, mas foi do que senti vontade no dia, a promessa de um molho rico à base de chocolate com especiarias e uma redução de amoras acabou vencendo.

A. pediu uma entrada diferente, carnitas (tacos de porco), mas o mesmo principal. Vale ressaltar que o prato principal veio acompanhado de arroz e tortillas caseiras quentinhas, uma delícia (parei de tirar fotos nessa altura).

A gula foi maior do que o bom senso, o magret estava perfeito, mas é um prato pesado já que tinha optado também por uma entrada, o que não deixou lugar para a sobremesa, portanto pedimos umas bolachas de massa frita com açúcar e canela acompanhadas de um molho de caramelo para compartilhar. O meu tipo de doce.

Quero muito voltar e provar outros pratos, não é um restaurante barato, mas também não é caro, como sempre, se pensar num equivalente em Londres, a conta teria sido uns 40% mais cara. Recomendo muito, dizem que as margaritas são ótimas, mas ficamos só num shot [generoso] de tequila para encerrar a refeição. Não sou grande fã de bebidas brancas, mas gosto muito de tequila, por ter um sabor "limpo" e um efeito suave (claro, se bebida moderamente :)))).

Uma sobremesa tardia ficou para a casa de chá de Serralves que, vou confessar, foi meio decepcionante. A torta de limão tinha um aspecto ótimo, mas não estava muito fresca, e ficou nisso, numa torta de limão não muito fresca.

Era a Festa de Outono, o parque estava lotado de famílias, mas acho que não é um local que funciona muito bem para nós no momento, pelo menos não num dia tão movimentado. A V. não para quieta e não obedece a avisos de "não corra, cuidado, é perigoso, etc, etc", precisa ser colocada no carrinho em certos momentos dos nossos passeios, e o terreno do parque é traiçoeiro em vários trechos. Não recomendo se embrenhar muito com uma criança pequena e irriquieta e num carrinho, principalmente se você estiver sozinha(o), é preciso ajuda para levantá-lo e transportá-lo em determinadas partes. Se você se contenta em ficar só pelo museu e a primeira seção do parque, porém, é tranquilo.

Monday, September 8, 2014

Pela cozinha

Desde que chegamos aqui, não houve um dia sequer em que não "transgredi" a dieta alimentar que adotei há alguns meses. Que não é nada radical - eu diria que é bastante permissiva até -, mas que tem um motivo de estar presente na minha vida agora. Como já expliquei, eu não diminui a ingestão de certos elementos porque está "na moda" ou para perder peso, mas devido a questões de saúde e de princípios.

E é claro que isso já se faz sentir, mas não de forma extrema, já que eu não cometi grandes excessos, apenas comi mais frequentemente coisas que não andava acostumada a comer. Porque vira e mexe comemos na rua e, no início, estava sem todo o meu equipamento de cozinha e não sabia bem onde encontrar certos ingredientes. Mas todos esses problemas já começaram a ser ultrapassados, amém!

E também tem outra coisa curiosa - a cozinha é o ambiente em que mais demoro a me sentir à vontade numa casa nova. E a minha é menor do que anterior, não tem a mesma vista do jardim de que tenho saudades, enfim, é quase como recomeçar a cozinhar - novas panelas, novas dimensões, novo forno, novas luzes. Acho que posso dizer que já estou em casa na "minha" cozinha, que a vontade de preparar novos e velhos e conhecidos está de volta, embora não vá me comprometer e dizer que ela veio para ficar.

De volta aos tachos e panelas (e a um fogão pequeno, mas é a gás, aleluia!), estou a fim de experimentar novas receitas de pães e comecei por esta aqui, que ela também fez, e, como não podia deixar de ser, dei uma reinventada. Não usei a farinha de amêndoas mas sim uma integral sem glúten - ou seja, o teor foi mais "sem glúten" em vez de "low carb", eu tento pegar leve no uso de amêndoas e não as tinha. Não usei, também, uma xícara inteira de linhaça dourada, apenas meia, completei com sementes de girassol tostadas e farinha de arroz integral. Usei um ovo a menos e ficou perfeito, mas porque a minha massa era mais leve sem as amêndoas, de outro modo, aconselho a usar os 5. Bati só dois em neve. Eu nunca tinha provado linhaça, por isso fui um pouco parcimoniosa na minha primeira experiência, de qualquer modo: ingrediente para mim novo e totalmente aprovado. Gostei muito do sabor e da textura, aliás, todos aqui em casa gostaram.

Uma bobagenzinha que preparei no domingo e que me conquistou, foram essas "pataniscas" de milho. Muito simples: 200g de milho, 40g de farinha sem glúten, um ovo batido, coentros e temperos a gosto. Não precisam de muito óleo para fritar, o que é ótimo, um bocadinho de azeite numa frigideira anti-aderente dá conta do recado. Aliás, no domingo passei o dia na cozinha, comecei por alguns gaufres/waffles sem glúten também - 1/2 xícara de farinha sem glúten com fermento, 3/4 de xícara de leite vegetal (usei o de arroz), um colher de sobremesa de açúcar amarelo, 1 colher de chá de sal, duas gemas e duas claras batidas em neve. Mas foram consumidos muito rápido, no hay fotos, ainda não tinha estreado o waffle maker.

A verdade é que eu já conhecia o Porto, mas o Porto que eu conhecia não tinha ainda muitas das opções que tem agora, então estou a redescobrir os caminhos e os lugares - o que estou a adorar -, e isto inclui o meu jeito de cozinhar e o que tenho ao dispor e como fonte de inspiração. Embora esteja tecnicamente em Matosinhos, atravesso a rua e estou na Prelada e, dali em diante, é um trajeto de sítios e ruas interessantes. E eu adoro isso, é um prazer simples e inato a quem é urbano de nascença e gosta de cidades (embora eu tenha uma grande parte do coração no campo, sou dividida mesmo) o de perambular e descobrir. Para mim, amor puro.

Pelo Douro

Na Quinta da Ermida. Porque precisávamos de um mini-break, mesmo que fossem apenas 24 horas no campo. Com borboletas amigáveis incluídas.

Pelo Porto

Friday, August 22, 2014

Aos poucos.

Chegou ontem o restante da mudança (perderam metade das minhas panelas, incluindo duas que tinha acabado de comprar), a bagunça aumentou, mas é bom ter (quase) tudo aqui. Agora é ir atrás do prejuízo. A internet só foi conectada hoje, portanto a atualização das leituras, as respostas aos emails aos poucos serão normalizados. Estava com a internet do telemóvel, pouco confiável e não queria renovar o pacote sendo que a de casa seria instalada. É este o ritmo do momento - aos poucos.

Thursday, August 7, 2014

Por aqui

Ultrapassamos a marca da primeira semana na Invicta e parece que já estamos aqui há um mês. Todos os dias a acordar num apartamento lindo, mas que não é a minha casa, o que me dá a impressão de um eterno Dia da Marmota, sempre a tirar coisas das malas, a pensar no que tem de ser feito, a comer fora do meu regime, a lutar para a minha filha se alimentar, a pedir táxis porque o meu sogro não consegue manter o equilíbrio nas ladeiras, coitado, e é mais prático para irmos à nossa casa, etc, etc. Fazemos turismo pela cidade, nos raros momentos de folga, com os meus sogros que muito gentilmente vieram para ser babás da cria enquanto arrumamos a casa e nos aturaram extremamente estressados, com a pequenota e a gata de brinde, em sua casa por uma semana. A gata, coitada, estava deprimida num hotel de atendimento excelente, mas já se mudou para a casa, é a estreante.

Agora faltam a net e a TV a cabo, não houve tempo de resolver isso, portanto vamos usar a rede do telemóvel para verificar emails e afins. Não tenho entrado no Facebook e é como ficar longe do demo. Não me faz falta, embora eu ainda publique fotos da V. por lá pelo editor do computador e use o Messenger, porque tenho amigos queridos demais da conta, mas que não percebem o significado da declaração, "prefiro ser contactada por email, telefone ou Skype, telegrama, missiva, tudo menos o Facebook". Já falei que acho aquilo coisa do demo (embora muito útil para as causas e para os pequenos empreendedores)?

Após uma tarde cansativa na loja sueca, já montamos armários, uma mesa com 4 cadeiras, mas esqueci de comprar as cortinas, os tapetes não estavam em estoque, há papel cartão por toda a casa. Infelizmente, tivemos de deixar móveis e pertences para trás na Inglaterra e apenas metade das nossas coisas chegou. Acho ótimo que tenha sido uma empresa britânica a fazer toda essa confusão e nos causar o prejuízo de perder e deixar coisas que não precisávamos perder e deixar para trás, porque as pessoas sempre tendem a cair para os estereótipos nestas situações, pelo menos isso.

Já fiz uma comprinha na Celeiro e gastei o dobro do que teria gasto na Ilha, mas c'est la vie, é um preço pequeno a ser pago em relação a tudo que acho melhor aqui.

O verão está muito semelhante ao que deixamos para trás, o que me faz pensar que há uma conspiração europeia para o famoso clima britânico dominar o continente.

Amanhã vamos para a casa, onde nos sentaremos num sofá-cama de solteiro e numa cadeira modelo escandinavo, não teremos Baby TV por alguns dias, nem berço. O resto, não sei.

Ainda não caiu a ficha de que estou aqui, amanhã é o início do resto das nossas vidas ou pelo menos, de uma boa parte dela. Vamos ver se isso anda ou desanda.