Friday, October 24, 2014

A casa, a vida na net [notas soltas]

As pessoas gentilmente me perguntam como vai a vida e a (re)adaptação ao Porto (tecnicamente estou em Matosinhos, mas colada à Circunvalação e à Prelada, portanto o código postal é um mero detalhe), e eu respondo que vai bem, porque vai. Essa parte da vida vai tranquila porque assim como ela, sinto-me in love e tenho momentos de paz profunda, algo que não experimentava havia muito tempo, desde que deixei Londres, a minha outra casa. É um coquetel de luz, cinzentos, maresia, azulejos, pessoas e outros estímulos, que me coloca no agora em vez de num pensar constantemente em onde gostaria de estar (o que, acreditem, é desconcertante). Voltei a ter vontade de viajar para outras terras, quando antes só queria vir para cá ou lugares que remetessem, de alguma forma, a este - chega de imitações.

O resto, bom, o resto ainda precisa entrar nos lugares, mas é um processo que não iria ser resolvido do dia para a noite, uma vez que há uma lista considerável de pendências e melhorias a serem realizadas, e acho que agora, que a casa está mais ou menos arrumada, as burocracias mais ou menos resolvidas, as ansiedades emergem como aquelas doenças que ficam mascaradas devido a outras mazelas.

Gosto do espaço da casa que alugamos, a vizinhança tem todos os serviços de que precisamos - e nenhuma ladeira! -, os ônibus [autocarros] nos levam a quase todos os lugares úteis e de lazer, enfim, é uma boa base. No meio do caminho entre a praia e a Baixa. Ainda não é a casa, casa, há pormenores, mas sejamos gratos porque poderia ser pior. A gata aprova a horta urbana e as árvores do condomínio e isso é bom, apesar dos perigos da rua movimentada que sempre me deixam a fantasiar cenas mórbidas.

Acho que finalmente chegámos, mas precisamos de botar a vida em ordem. E eu preciso de um ou vários projetos, estou à caça, que como está não pode ficar.

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Algo que melhorou consideravelmente a minha qualidade de vida foi um certo afastamento do Facebook. Quem me conhece sabe que estou sempre reclamando, dizendo que vou apagar a conta, etc, etc, mas que, como quase todo mundo que reclama, pouco faço. E eu até continuo, quase sempre sem fazer o login, a partir do navegador, a publicar um ou outro post (geralmente ignorado), fotos da minha filha (em modo privado), respondo às mensagens, vejo um(a) ou outro(a) post/foto dos meus contatos, dou um ou outro "curtir", mas, como diriam os ingleses, meu coração não está ali. Eu não abro mais o Facebook para ter notícias dos amigos e familiares e ele, com exceção do Messenger, está desativado no celular [telemóvel].

Eu gosto da rede como ferramenta de divulgação e informação, gosto mesmo, mas não curto a maneira como grande parte dos meus contatos (principalmente a brasileira e a do lugar onde morei por algum tempo e que carinhosamente chamo de Dogville) a utiliza, não curto a maneira como certas pessoas tentam se impor como meus amigos sem nunca o terem sido, não gosto de ter certos familiares como "amigos" (o que me levou a ignorar certos pedidos), enfim, a lista de desvantagens continua.

Talvez seja um problema só meu e dos meus conterrâneos, mas o Facebook faz-me sentir só, muito só. E não é a solidão do isolamento físico, não. Com os nossos perfis, viramos "mini celebridades", indivíduos com personas públicas que se dirigem coletivamente aos outros sem nenhum tipo de discernimento quanto ao "público da mensagem", é extremamente impessoal e, em muitos casos, falso. Sim, é aconselhável ser reservado e/ou impessoal ao publicarmos certas coisas na net, o cerne no problema não é este, mas sim o fato de como a comunicação por Facebook parece ter substituído a real, até mesmo o email, que por alguns já é considerado pouco pessoal (do que eu discordo, o email é tão pessoal quanto qualquer outra forma de comunicação individual, o problema é usá-lo, assim como as SMS's e os posts públicos do Facebook, em lugar da comunicação direta; por exemplo, pessoas que usam o email para terminar um relacionamento). Em vez de me aproximar dos meus amigos (um dos únicos motivos de manter a conta, já que eles estão espalhados pelo mundo), sinto que estou cada vez mais distante, é como se existisse uma galáxia azul e branca entre nós.

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Eu já tive blogues de diversos tipos, uns mais duradouros, mais lidos; outros mais obscuros, quase ignorados. E sempre os apago, afasto-me por um tempo, retorno sem ter muita ideia do que escrever. É progressivo - cada vez que volto, menos sei. Por isso o tom um pouco randômico deste aqui, às vezes escravo do lugar-comum, por isso a falta de assiduidade. Mas gostaria de persistir até, quem sabe, encontrar um propósito, utilitário ou não. A metáfora, neste caso, fica a cargo dos olhos de quem lê.

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