Sunday, June 29, 2014

Quanto a Bristol

É estranho sentir um certo pesar nesse início de despedida à cidade que foi nossa casa nos dois anos e sete meses mais recentes, pois não me lembro de algo semelhante em relação a Londres, por um exemplo, um lugar onde tive uma vida mais verdadeira, onde passei muito mais tempo, onde deixei amigos. É um frio na barriga, uma nostalgia deslocada. Aqui não tenho um canto sobre o qual possa dizer, "era onde ia quando precisava refletir, ou olhar vitrines, ou namorar livros, ou tomar um café acompanhado de uma torta maravilhosa". Tenho muitas memórias visuais, outras tantas gastronômicas (neste aspecto, sim, aproveitamos até que bem), mas a cidade sempre me pareceu vista da janela do trem.
Só pode ser mesmo pelo fato de aqui ter acontecido algo super importante - o nascimento da minha filha. Só pode ser essa a explicação, pois a beleza e o resto foram apenas parcialmente vividos; os laços, inexistentes.
Pensando melhor, acho que parte desse lamento vem justamente de não ter conhecido bem a cidade e as suas pessoas, não ter criado uma narrativa mais holística num lugar tão bonito e interessante. Talvez em Londres a despedida tenha sido mais fácil porque a cidade jamais deixará de fazer parte de mim, porque conheço suas ruas e seus climas e seus habitantes, porque era a cidade dos meus sonhos adolescentes e onde acabei amadurecendo [um pouco]. Quanto a Bristol, uma pena.
Vejo-me, portanto, a tirar fotos de coisas insignificantes, para tentar criar uma teia de memórias por onde a minha filha possa passear sem se enroscar muito, cujo desenho lhe mostre como era tudo nos seus primeiros anos de vida, a cidade, a casa e o bairro onde ela nasceu e dos quais não irá se lembrar. Eu praticamente não tenho registros dos meus primeiros anos de vida, eram outros tempos e, meus pais tinham uma visão muito utilitária da vida. Sinto falta disso.
Enquanto isso...
O jardineiro começar a aparar, podar, arrancar o matagal do quintal amanhã. É realmente a única coisa de que vou sentir falta nesta casa (isso, claro, se a próxima não for uma caixinha de surpresas desagradáveis), desse espaço relativamente privado e selvagem, onde a minha filha e a minha gata podem ser aventurar tranquilamente; onde tudo, para esses seres inocentes, é de certa forma misterioso e divertido, mesmo em meio ao caos.
Off topic, mas ainda dentro do tema:
Na semana que passou, os meus sogros estiveram aqui para dar uma mão com a organização da mudança, distrair a V. e foi muito proveitoso, apesar de estarmos ainda a uma certa distância de um progresso mais significativo. Mas muita tralha já se foi, algumas coisas foram embaladas, outras levadas para os dias em que ficaremos com eles. Na derradeira noite, eles nos levaram para jantar aqui, um lugar à primeira vista pomposo, mas é só mesmo uma primeira impressão, pois os empregados de mesa são super atenciosos, vestem-se à vontade e deixam você aproveitar a refeição - que, por sinal, foi excelente - em paz, sem frescuras adicionadas. É uma atmosfera de pub, num ambiente requintado, o que é meio esquisito.
É um cardápio bem carnívoro – o nome do lugar já o diz – mas tinha opções de peixe e vegetarianas, que foram a minha escolha. A entrada foi o que me marcou, esta aqui:
Couve-flor frita com molho de tahini e limão, pimenta e coentros por cima. Divina, é fácil de copiar em casa. Queria deixar o registro, pois é mesmo muito boa.

4 comments:

  1. Olá :)
    Couve flor frita assim simples ou com um polme a servir de cobertura? Hum... um não carnívoro até que se safa bem nesse restaurante: há muitos "sides" adequados! :)
    Acho tão bonito que faças esses registos dos primeiros tempos da tua Verena para que, mais tarde, ela possa descobrir os lugares de criança. O meu pai fotografava muito. Temos fotos de tudo (até umas de rabinho ao léu para mostrar os efeitos do sarampo...enfim!). Eu tenho pena de, ali entre os meus 15 e 18 anos, não ter produzido os registos fotográficos devidos. Parece que há ali uma fatia da minha vida que caiu no esquecimento.
    Já falta pouco para a grande mudança :) Tudo a correr bem!
    Beijinhos!

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  2. Olá :) tive de olhar o que era polme :) Acho que não, talvez tenha sido passada levemente na farinha, porém, estava bem sequinha e dourada, mas não tinha uma casca.
    Sim, as fotos vão contando uma história, acho importante, não tenho quase nada. E, no teu caso, registra também o ohar do fotógrafo :)

    Beijinhos,

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  3. Pois é, essa menina linda nasceu em Bristol! Só por isso essa cidade já faz parte da tua história. E acho que tem a ver com a idade também. Eu agora apego-me mais aos lugares. E estou ainda mais nostálgica do que era, se é que isso é possível!!
    Tenho a certeza que a tua filha vai adorar ver essas fotos mais tarde, eu adoro ver fotos de quando era criança.
    Espero que corra tudo bem na mudança. Se precisares de alguma diz. Apesar de não estar na mesma cidade, no que for possível eu ajudo. Bjs

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    1. ;)))) Pois, essa nostalgia constante deve ser mesmo coisa da idade...
      Muito obrigada, querida, pela oferta de ajuda! Se eu precisar de alguma informação, pergunto, muito gentil da tua parte!
      Vamos ver se nos encontramos pelo Norte :)
      Beijos!

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