Tuesday, April 29, 2014

Os pratos nossos de cada dia

Entre tantas outras encruzilhadas que temos enfrentado aqui em casa, está a da alimentação. Bom, a minha e a da V., pelo menos, já que A. é um caso perdido entre barras de cereais açucaradas, chocolates caramelados, tortilla chips apimentadas e geneticamente modificadas, consumo quase zero de ingredientes verdes, etc, etc. Não há como convencê-lo a aderir a uma dieta mais equilibrada, ele não foi criado para se importar com o que come, os hábitos estão muito arraigados. Paciência.

O meu caso é o de encontrar uma dieta que contribua com a minha saúde hormonal, que já teve dias melhores. Ao ler hoje este artigo da Bela Gil, uma série de dúvidas veio à tona (em contrapartida, encontrei algumas dicas para equilibrar os níveis de estrogênio). Eu estou me tratando com a naturopatia, já que o sistema de saúde daqui não me considera digna de atenção, e também cortei bastante glúten, frutose e lactose – bastante, mas não totalmente. Um grande problema que tenho enfrentado é a bagunça que sempre foi o meu organismo, quando parece que encontrei uma solução para substituir um hábito nocivo, vem um efeito colateral. Há dias que me sinto bastante desanimada, o que era para ser natural vira uma batalha, um passo adiante vem acompanhado de dois em marcha-ré. Quando paro para pensar num momento em que me senti bem, em forma, tenho que voltar uns oito anos no tempo. Quando me tratei com a acupuntura, com uma profissional além de excelente, que conseguiu regular os meus ciclos e hormônios. Mas Londres virou parte do passado e ela, caríssima. Mas para quem tem quaisquer problemas sérios de saúde feminina, fertilidade, etc, e nenhuma objeção financeira, recomendo de olhos fechados. Ela é mesmo genial.

A questão da V. é menos grave, mas, para mim, preocupante. Ela não é grande fã de comida. Talvez seja da minha comida, quem sabe, mas não há muito o que fazer a não ser começar a preparar pratos dignos de estrelas Michelin ou que pavimentem um caminho rápido para a obesidade infantil todos os dias. Eu não a acostumei com doces, sempre controlei as bolachas e afins (só compro produtos com pouco ou nenhum açúcar), dei de tudo para ela experimentar, dentro das regras, desde os seis meses, e ela foi bem até os 13. Mas nem por isso. Ela é de lua, o que é relativamente normal, porque uma apetite variável não é nada extraordinário, dizem que devemos contabilizar o que é ingerido pelos bebês semanal não diariamente. O problema é que ela não parece interessada em coisas como frutas, verduras e legumes. Ou mesmo, pratos mais cotidianos. Sempre deixo os legumes e frutas na mesa do cadeirão, mas ela ou pega com cara de nojo ou joga tudo no chão – os dois geralmente. Não come e depois quer se entupir de bolachas. Ela gosta de bananas, às vezes de manga ou melão, mas é só. Então, tem de ser frutas cozidas misturadas à papa ou nada. Legumes vão misturados à omelete (que ela adora) ou ao risoto. A cereja no topo do bolo é que não gosta de leite e de queijo (a não ser derretido, mas depende do contexto também), mas até aí, o problema pode estar em alguma predisposição genética, já que os pais são pouco tolerantes à lactose. Mas substituir o cálcio e a gordura do leite essenciais a essa fase do desenvolvimento é a luta. Pelo menos ela gosta de iogurte e fromage frais, mas leite, só na papa e quando está disposta.

Portanto, a alimentação aqui em casa é a la carte. Jantares e almoços diferentes para os três. Nem sempre totalmente diferentes, há alguns pontos de intersecção, dias em que jogo tudo para o alto, mas algo que os três comam felizes e contentes é raro.

Acho que o que mais me chateia nisso tudo é que ter o que comer, até mesmo aqui, um país teoricamente próspero, é um privilégio, algo pelo qual temos de ser gratos; é toda essa frescura e esses não-podes e não-gostos é que me cansa. Também me cansa a pressão para uma dieta equilibrada que nem sempre corresponde aos recursos disponíveis ou ao gosto do freguês; opostamente, o discurso de quem acha que comer eticamente é esnobismo (sim, nem todos têm acesso a alimentos de qualidade, mas escolher produtos orgânicos e mais saudáveis não é uma atitude, em princípio, elitista), todas essas variantes de algo que era para ser simples e normal. Comer. As nossas refeições de cada dia.

Espero encontrar logo um equilíbrio, por mais que agora ele me pareça utópico.

5 comments:

  1. Olá Dani
    De certeza que o facto da V. não ser grande fã de comida não tem nada a ver com a tua comida. Acho que tens de te descartar dessa culpabilização (desculpa-me desde já o atrevimento). O meu irmão era um pisco em miúdo (a minha mãe desesperava com ele) e eu alambazava-me com tudo. E olha que a minha mãe, apesar de não gostar de cozinhar, faz boa comida porque é perfeccionista. E ele comia? Nada!
    Talvez a forma de nos relacionarmos com a comida se manifeste logo nos primeiros anos de vida (apesar de todas as influências a que podemos estar sujeitos...ok, isto vai resvalar para a questão de cultura vs natureza!!!). Talvez haja pessoas mais predispostas para gostarem de comer.
    Por outro lado, talvez desvalorizemos o facto das crianças se cansarem das comidas, tal como acontece com os adultos (pelo menos com alguns). Eu gosto de comer, que gosto. Mas tenho fases em que não passo sem algumas comidas e outras fases em que não as posso ver à frente, tal é o enjoo!
    E que tal usares uma coisa destas? - http://capitaolisboa.com/product/food-face-menina para a tua filha se interessar por alimentos que habitualmente não aprecia. Eu acho a ideia deliciosa. Até pensei comprar uma coisa destas para mim só pelo gozo de brincar com a comida :)
    E também não é preciso chegar a este ponto - http://web.stagram.com/n/leesamantha :))))
    Mas sim, tens razão, tornámo-nos todos neuróticos com a comida :)))
    Beijinhos

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  2. :-))))) Se eu tivesse o tempo, a criatividade e energia para montar pratos assim...
    Curioso teres mencionado esse prato e essa estratégia, eu tinha pensado em montagens "divertidas" de pratos, mas em algo bem mais simples, claro.
    O problema é que o instinto dela diz para primeiro pegar as coisas (alimentos neste caso) e mudá-las de lugar - e depois espalhar e jogar ao chão. Ela não quer mais levar tudo à boca como antes, como disse, era mais aberta, mas nunca gostou muito de pegar em hortaliças e legumes, algo a ver com a textura.
    Mas, agora que a comunicação entre nós está evoluindo um pouco e ela, um pouco mais concentrada nas coisas, essas brincadeiras podem resultar.
    Obrigada pela dica :-)

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  3. *hortaliças* já inclui os legumes, eu ia dizer "verduras e legumes".
    Eu sempre fui de gostar de comida quando criança, mas não muito faminta. Percebo isso do enjoar - eu fui assim com sopas. Hoje em dia preciso estar no clima, principalmente depois da quantidade de cremes e papas que preparei para a V. Prefiro sopas pedaçudas, como o minestrone. De risotos também estou farta, não aguento nem ver à frente, o que não é de todo mau, já que tenho preferido o arroz integral.

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  4. Não sei se faz algum sentido, mas mudar o local da refeição pode ajudar. Reparei que tens jardim (ah, como eu gostava de ter um pedacinho de terra aqui em Lisboa!) e como agora já está bom tempo e mais quentinho, uma refeição ao ar livre (um pic nic em casa!) pode ser um divertimento para ela. Finger food não ajuda? Já que ela gosta de mexer nas coisas. Não percebo nada de alimentação infantil e não faço ideia se com a idade dela pode comer os legumes preparados de formas mais adultas. Tempura está fora de questão? (vou ser cilindrada com esta pergunta!) :)
    Beijinhos

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  5. Olá :-) Boa ideia a do pic nic, eu gosto de comer ao ar livre quando o tempo permite, embora aqui não tenha esquentado o suficiente ainda, houve alguns dias bons, mas a região onde moro tem um tempinho muito ruim - muito vento, muita chuva, etc. Mas vou ver se organizo algo no quintal a próxima vez que o sol der as caras sem ventania (talvez quarta). Os verões são agradáveis, mas a coisa só melhora lá para Julho (quando talvez estaremos de mudança). Curioso, eu tinha pensado nos tempuras porque faço peito de frango panado para ela (com pão ralado caseiro e no forno, não dou nuggets prontos) e ela adora, pensei mesmo em fazer algo semelhante com os legumes! Eu comprei um livro do Heston, o primeiro dele, este aqui, para ver se me dá algumas ideias - http://www.amazon.co.uk/Family-Food-Approach-Cooking-Penguin/dp/0140295399/ref=sr_1_7?s=books&ie=UTF8&qid=1399885633&sr=1-7&keywords=family+cooking. Quero introduzir mais finger food por isso mesmo, ela gosta de pegar, mexer. Acho que vou pesquisar mais livros com receitas de comidas com carinhas :-))))))
    Ela come de quase tudo, mas coloco zero ou pouco sal na porção dela (ela pode comer sal agora, mas pouco) e não come frutos secos (só bem picados ou moídos, como nuns cookies que faço), pimenta/picante e carne vermelha, só a moída, há o perigo de se engasgar. Eu faço questão de comer legumes na frente dela, ela me olha desconfiada mas outro dia experimentou uma vagem e um pouco de brócolis. Um pouquinho :-)
    Beijinhos, obrigada pelas sugestões!

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