Monday, April 20, 2015

Uma lição de humildade

Não há nada errado em ser otimista. Mais do que uma virtude, o otimismo é uma ferramenta de sobrevivência.
Porém, acho que sou da turma do "copo meio vazio", ainda que não me considere pessimista, muito pelo contrário. Nas grandes ocasiões, vou até o fim e custa-me desistir, mas mantenho as expectativas baixas, sempre, porque sei que tenho o poder de colocar as coisas em movimento, mas não posso controlar o que está fora do meu alcance. Como as ventanias, por exemplo. Achar que o poder do pensamento positivo pode mudar tudo é uma forma de narcisismo, não sou Deus.
E disso sempre sou lembrada, nas situações mais banais.
No sábado, por exemplo.
Planejei um final de dia calmo, jantar no forno para evitar bagunça, peixe para mim e a pequena, que estamos (quase) sempre sós. Limpei a cozinha, fui ao supermercado.
Comecei a preparar o jantar e choro. Sem motivo aparente. Ela sentada a assistir à Porquinha Peppa (que acho uma chatice, confesso, mas tem mel para as crianças) e a fazer bico, inconsolável. Verifico a temperatura, se o ar cheira a cocó - tudo certo. Ofereço um 'cadinho de chocolate, a desolação continua.
Na terceira ida à sala, sento-a no colo e logo noto um acidente de fralda, um tanto bizarro. As pernas das minhas calças molhadas, as calças dela, mais ainda.
Resolvida a situação, depois de muito stress e sobe-desces de escada, o peixe passou do ponto. Sentamo-nos com a nossa refeição assim-assim, sem muito ânimo. A minha ideia, mais do que um jantarzinho de Instagram, era introduzi-la a uma versão caseira de douradinhos de peixe. Como os daqueles programas de TV com o Hugh Fearnley-Wittingstall, ou mesmo, o Jamie.
Eu tinha imaginado, mas não saiu assim. Quase nunca sai. Por isso, a necessidade cada vez maior de controlar as expectativas. Nas pequenas, grandes coisas. De sentir menos frustração e stress. Ser grata quando tudo corre bem ou sem grandes danos. O peixe até sabia bem, e era comida,  e ela comeu quase tudo - raridade -, não deixámos a mesa com fome.
Mas a cozinha ficou uma bagunça só, como não podia deixar de ser.


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