Saturday, September 7, 2013

Portishead


Até me mudar para o sudoeste da Inglaterra, não sabia que Portishead era um lugar. Muito menos que a banda era daqui. Eu não sou uma pessoa muito interessada em dados enciclopédicos triviais - pelo menos não era até a chegada da Wikipedia, que consulto sempre em busca de primeiras referências.
Quando comecei a fazer a nossa pesquisa em busca de uma casa para alugar, vi que Portishead era uma opção. Caiu a ficha. Mas acabou não sendo, pois era um pouco afastada demais da nossa localização ideal. Ficou para a próxima.
Já instalados por aqui, num domingo de inverno ensolarado, resolvemos passear por lá. E era um senhor domingo ensolarado e frio, muito bonito mesmo. Depois de nos perdermos um pouco, chegamos à marina - um corredor d'água ladeado de prédios elegantes, famílias de classe média alta passeando com seus filhos e cachorros, um pub simpático ao final da linha. Achei pouco provável que tivesse sido essa a inspiração para a banda de de trip hop. Não me pareceu melancólico ou atmosférico o suficiente.
Chegamos ao ancoradouro e fomos saudados por algo mais interessante - um píer suspenso sobre uma faixa de areia molhada, com o mar a perder de vista. Mas mesmo assim. Subimos por uma escadaria na encosta e encontramos mais um pub, dessa vez com mesas ao ar livre e a paisagem marítima de fundo. Pensei que seria legal retornarmos no verão, foi mesmo um dia congelante e já quase escurecia.
Quase dois anos depois, no que disseram talvez tenha sido o último dia quente de 2013, resolvemos ir passear em Portishead, num tal lago perto da marina. Eu já queria ter ido antes, porque há uma piscina pública decente e eu adoro calor, contanto que tenha um volume d'água onde me refrescar. Mas, devido à insossa experiência anterior, A. tinha se recusado.
Desta vez, porém, Portishead me pegou de jeito. Gosto muito da cidade e da região onde moro, mas nunca nada tinha me deixado, vamos usar uma palavra engraçada - embevecida. Portishead conseguiu. A cidade em si é charmosa, mas essa região do lago... O lago é bobinho, aquela coisa de sempre - uma grande poça com patos e gramados e árvores e famílias entediadas. Mas ao fundo, ao fundo tem o mar. Tem o pequeno penhasco com vistas panorâmicas do mar e, ao contrário dos outros lugares costeiros que já visitei aqui, dá para respirar maresia. E há uma esplanada com um pub simpático que se projeta sobre a praia e é anexo à piscina. Não é o lugar mais lindo do mundo, mas é lindo, acolhedor, fotogênico, tranquilo. Uma pena a praia ser imprópria para uso - até a faixa de areia é perigosa. Talvez seja esse o seu encanto, a proximidade e a distância que mantém de nós, humanos.
Essa tarde em Portishead foi um dos poucos momentos, esses que andam cada vez mais raros, em que me senti bem em estar aqui.

2 comments:

  1. Já vivi seis meses em Bristol e adorei! Vivi aqui: http://www.silviasilva.com/2012/12/sitios-que-ja-chamei-de-casa.html
    Na altura quando soube que iria estagiar em Bristol, o que me veio primeiro à cabeça foi Portishead e Massive Attack! Só depois pensei no resto. Depois de algum tempo a frequentar um café no centro da cidade, sempre que lá ia beber um capuccino o rapaz que lá trabalhava colocava o Unfinished Sympathy para mim. A música ficou mesmo especial:D e a cidade também! Já percebi que não tiveste uma experiência tão positiva, mas tb vivi lá numa idade e estilo de vida diferente. Achei super giro ler os teus posts sobre a cidade! bjs

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    1. Que giro, Sílvia! Bristol é uma cidade muito bonita e interessante, situada numa região idem. A minha passagem por lá foi muita intensa, como já disse aqui, e acho que os meus sentimentos "bittersweet" têm mesmo a ver com o fato de as circunstâncias não terem sido ideais para a nossa permanência - pelo menos não agora, no início estávamos bastante entusiasmados -, pois senti que não vivi a cidade como ela merecia. Mas, paciência, foi como foi e vou ter sempre ótimas lembranças de lá, espero voltar com a minha filha para lhe mostrar a cidade onde nasceu. Unfinished Sympathy é uma música que me lembra os meus primeiros anos em Londres, mas comprei o CD (coisa mais antiquada, ninguém mais compra CDs!) no meu aniversário de 2012 em Bristol, por puro sentimentalismo :). Beijos, obrigada pela visita!

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